O brasileiro é muito criativo, e prova disso está no novo termo que tem feito sucesso entre as mulheres: o feminejo — um estilo de música sertaneja feito por mulheres e para mulheres, onde elas têm o papel principal.
O novo ritmo mistura sertanejo, pop, eletrônico até funk. Em suas letras, lutam contra o machismo, a traição e a violência doméstica, mostram-se empoderadas e donas de si, mas também sofrem por amor. O sucesso é tanto que as suas músicas têm liderado as plataformas de streaming desde 2016.
Neste post, saiba mais sobre o feminejo e suas letras, como o gênero se diferencia do sertanejo tradicional e conheça algumas de suas principais representantes. Acompanhe!
Conheça a história do feminejo e suas diferenças com o sertanejo masculino
A música sertaneja brasileira sofreu algumas reviravoltas. Até 1945, era considerada caipira a música que contava, com expressões populares, a vida do homem no campo. A partir de 1960, novas duplas surgiram, introduzindo o acordeom e a harpa nas canções.
Foi uma fase que fizeram sucesso Milionário e José Rico, Cascatinha e Inhana, Tia Carreiro, as Irmãs Galvão e as Irmãs Castro — cantoras mais antigas do estilo sertanejo, que quebraram barreiras e mostraram que elas podiam cantar e fazer sucesso tão bem quanto os homens.
Com a introdução da guitarra elétrica e da bateria, o sertanejo ganhou outros ares com o romantismo, tendo um estilo mais jovem com Sérgio Reis, Renato Teixeira, Chitãozinho e Xororó, João Paulo e Daniel, entre outros. Tornou-se uma música comercial, passando a ser trilha de novelas de grande sucesso com canções como “Fio de Cabelo”, “É o amor”, “Evidências” e tantas outras.
Nalva Aguiar e Roberta Miranda foram as mulheres que tomaram conta do cenário sertanejo nesse período. Roberta Miranda chegou a vender um milhão de cópias em seu primeiro disco, com músicas embaladas por letras românticas que tratavam dos relacionamentos, sofrimento e ausência da pessoa amada.
Na virada do milênio, a música sertaneja recebeu forte influência do ritmo eletrônico, funk carioca e pop, dando origem ao sertanejo universitário e conquistando um público mais jovem. Duplas como Maria Cecília & Rodolfo, César Menotti & Fabiano, Victor & Léo e os cantores Luan Santana, Gusttavo Lima, Michel Teló e muitos outros levaram seus fãs à loucura.
As letras deixam de lado o romantismo e abordam baladas, pegação e ostentação, transformam as mulheres em interesseiras e as tornam objetos de conquistas, demonstrando o machismo firme e forte na sociedade brasileira.
É nesse cenário, em 2011, que as mulheres dão a volta por cima e denunciam o preconceito dentro do cenário sertanejo. As responsáveis por essa transformação foram Marília Mendonça, Simone & Simaria, Naiara Azevedo, Maiara e Maraísa. Esse novo conceito de música sertaneja feita por mulheres recebe o nome de feminejo.
Em 2016, “Infiel”, de Marília Mendonça, e “10%”, de Maiara e Maraísa, ocuparam o 1º e o 3º lugares, respectivamente, das músicas mais ouvidas no Brasil — e até hoje o sucesso é garantido. É pelas suas letras e histórias de vida que elas incentivam as mulheres a lutarem por direitos iguais e amor-próprio.
Entenda as letras do feminejo
As letras das músicas do feminejo permitem que as mulheres vivam todos os sentimentos sem culpa ou vergonha. O tom feminista é presente, exaltando as vontades femininas que antes eram tão reprimidas.
As cantoras incentivam a punição aos homens que traem, e cantam e denunciam o choro causado pela violência doméstica e a mudança do comportamento delas perante a sociedade. As letras dialogam incentivando as mulheres a expressarem seus sentimentos e suas vontades, afirmando que elas podem beber, ficar no boteco, fazer sexo sem compromisso, entre outros assuntos. A música causa essa identificação com o público e ganha espaço cada vez mais crescente.
Além disso, elas transgridem os padrões de beleza determinados pela mídia e pelo meio musical. Com os ideais do feminismo, incentivam a autoaceitação e a autoestima elevada para decidirem sobre o seu corpo e as suas vidas.
Saiba quem são as cantoras do feminejo
Solistas ou em duplas, as cantoras do feminejo têm conquistado o público feminino — e, não se espante, até os homens que compartilham das mesmas ideias. A seguir, conheça algumas dessas vozes!
Simone e Simária
Naturais de Uibaí (BA), as irmãs Simone e Simária moraram em várias cidades, pois seu pai era garimpeiro de diamantes. Família humilde, chegaram a viver em casa de madeira.
Com a morte do pai, começaram a cantar como backing vocal de Frank Aguiar. Investiram na dupla e suas vozes ficaram conhecidas pelas canções “Quando o mel é bom”, “126 cabides” e “Loka”, em parceria com Anita. Tornaram-se juradas do The Voice Kids, programa de calouros mirins da Rede Globo.
Naiara Azevedo
A carreira de Naiara Azevedo teve um início descompromissado. Enquanto terminava seus estudos, em 2011, ouviu o single “Sou foda” pela dupla Carlos & Jader e achou a letra deprimente para uma mulher. Assim, compôs uma música em resposta, denominada “Coitado”.
O vídeo caseiro com a música, lançado no YouTube, foi a porta de entrada para Naiara fazer mais de 20 shows por mês.
Marília Mendonça
Goiana de nascença, iniciou sua carreira como compositora com sucessos como “Cuide bem dela” (Henrique & Juliano) e “É com ela que eu estou” (Cristiano Araújo). Seu talento logo a levou ao estrelato com a música “Infiel”, “Eu sei de cor” e “Impasse”.
Apareceu no programa Fantástico, da Globo, em uma entrevista falando sobre o domínio das mulheres na música sertaneja. Em 2017, foi uma das atrações do Show da Virada, do mesmo canal.
Maiara & Maraísa
Irmãs gêmeas, Maiara e Maraísa nasceram em São José dos Quatro Marcos (MG). Foram criadas em Araguaína (TO) e, hoje, vivem em Goiânia (GO). Têm quase 2 milhões de seguidores no Instagram e lotam shows por onde passam.
Em 2013, o hit “No dia do seu casamento” teve quase 7 milhões de views. Outro grande sucesso foi a música “É rolo”, gravada em parceria com a dupla Jorge & Mateus.
Como vimos, a música sertaneja passou por várias mudanças no decorrer de sua história. A mais recente delas, o feminejo, surgiu para mostrar à sociedade o machista que ainda permeia o Brasil, espalhando a todos os cantos mensagens de transformações que ainda precisam ser feitas.
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